História do Polo Têxtil de Americana

A cidade de Americana comemora no dia 27 de Agosto seu 149º aniversário. Seu  nome é uma referência à migração de norte-americanos. Eles trouxeram sua cultura e técnicas agrícolas, como o cultivo do algodão, e a descoberta da indústria têxtil.

O Brasil tem uma grande extensão territorial e, por isso, são vários os polos industriais têxteis. Entre os principais, merecem destaque os do Ceará, do Agreste Pernambucano, do Vale do Itajaí, no estado de Santa Catarina, e do Polo de Americana, em São Paulo.

A Região do Polo Têxtil (RPT) é o maior pólo da indústria têxtil e de confecção do Brasil, responsável por 85% da produção nacional de tecidos planos de fibras artificiais e sintéticas e, por essa razão, considerada o “Maior Polo Têxtil de Tecidos Planos de Fibras Artificiais e Sintéticas da América Latina”. Localizado no leste do estado de São Paulo, mais especificamente na Região Metropolitana de Campinas e compreende os municípios de Americana, Santa Bárbara d’Oeste, Nova Odessa, Sumaré e Hortolândia. São 1,2 mil indústrias têxteis e 2,2 mil confecções, segundo o Sinditec (Sindicato das Indústrias Têxteis de Americana e Região).  

História do polo têxtil de Americana

A história têxtil de Americana se iniciou em 1866, com a chegada do norte-americano, o coronel confederado William Hutchinson Norris nas terras chamadas de Santa Bárbara. Norris ficou perto do Ribeirão Quilombo e deu início a plantação de algodão. A terra era fértil e apresentava uma ótima habilidade na lavoura, assim a plantação se tornou referência na área em pouco tempo, chamando atenção de outros americanos empenhados em plantar algodão, conhecido como ouro branco.

O ano de 1875 foi muito importante para a pequena vila que surgia. A inauguração da Estação Ferroviária da Companhia Paulista contribuiria para a escoação do cultivo de algodão e melancia para todo o estado de São Paulo e reforçaria a autonomia da Villa dos Americanos de Santa Bárbara.

William Hutchinson Norris, Coronel Norte-Americano

O segundo momento de grande importância ocorreu a três quilômetros daquele lugar, com a inauguração da primeira Indústria Têxtil de Carioba, criada pelos irmãos Antônio e Augusto Souza de Queiroz e o americano William Pultney Raltson. Em 1884 a indústria foi comprada pelos ingleses Jorge e Clement, que também é dono da fazenda de Salto Grande, mas a fábrica foi fechada em 1896 por causa das dívidas adquiridas pelos irmãos, após a abolição da escravatura.

A fábrica ficou fechada em torno de seis meses até ser comprada em um leilão em 1901, pelo comendador Fraz Muller. A família Muller se mudou para Villa Americana no próximo ano, dando um novo rumo para a tecelagem e uma nova direção econômica para a pequena vila. Novas estratégias de trabalho e tecnologia foram inseridas, a vila operária aumentou para ser capaz de abrigar seus colaboradores, sendo que a maioria era imigrantes italianos. 

Em torno de 1904, sob o comando de Rawlison Muller e Cia, a empresa de tecidos se tornou a segunda mais importante do país. O bairro Carioba foi o primeiro, no Brasil, a receber saneamento básico e asfalto, antes mesmo da Villa Americana. Em 1907, a roda d´água deu lugar a uma usina hidrelétrica que se fez responsável pelo abastecimento de energia tanto da fábrica como de algumas cidades presentes nas redondezas. Carioba era formada por quatro grandes empresas de tecido e seguiu próspera nas mãos dos filhos Hermann Muller até 1940, quando a família precisou vender as instalações a J.J Abdalla por causa da perseguição aos alemães em solo brasileiro, durante a Guerra Mundial. Carioba finalizou suas atividades em 1976. 

Bairro Carioba, Americana – SP, 1904

No ano de 1921, Cícero Jones e Hans Schweizer levaram para Americana os primeiros teares para a criação da seca. Eram 12 teares trazidos da Suíça e montados em barracão na rua 30 de Julho. Jones e Schweizer foram os primeiros no ramo de tecido na área central de Villa Americana e os primeiros a criarem seda, contribuído para a variedade da indústria. Após o falecimento de Jones, a indústria ficou dois anos sem produzir até ser vendida para os irmãos Giuseppe e Bertoldo. 

Nos ano de 1930 as fábricas têxteis começaram a aumentar. Com a perspectiva de melhorar a renda familiar, muitos colaboradores da indústria se aventuraram a comprar até dois teares e fabricar em casa. A atividade cresceu de forma significativa a partir de 1940 motivada pelo reduzido gasto da produção do tecido, com a inserção, em larga escala, dos fios artificiais (náilon e viscose) criados pela Fibra S.A, principal exportadora e produtora desses fios na América Latina. A Villa Americana ficou conhecida com o maior centro de produção de tecidos da América Latina durante esse período. 

O avanço da área têxtil do setor de tecido em Americana chamou atenção de outras grandes empresas para seu território, como a Polyenka S.A. Indústria Química e Têxtil, em 1972. A organização inovou o parque industrial com a introdução dos fios sintéticos, ou seja, o poliéster. Nos anos seguintes, chegaria à empresa de Tecidos Tatuapé, do Grupo Santista, outra importante organização do setor que ainda se mantém firme nos dias atuais. Desse modo, o polo de Americana concentrava todas as grandes empresas do ramo de tecido em seu território, eliminando a compra de insumos fora do município.

Polyenka S.A. Indústrias Química e Têxtil, em 1972.

Na década de 60 ocorreu a Feira Industrial de Americana, a primeira feira de tecido acontecida no estado de São Paulo. Então, era a cidade com maior importância no ramo têxtil, porém era necessário criar um evento capaz de prospectar o parque industrial no município a nível nacional. 

O sucesso do evento foi tão grande que se tornou uma entidade de promoção da indústria e produtos locais. O local foi berço para outros importantes eventos sociais. Em 2017 foi criado o Centro Cultural e Científico da Moda, um local direcionado à pesquisa de novas tendências do setor têxtil e eventos específicos para empreendedores, em parceria com o Grupo Arena Bureaux. Nesse sentido, é importante destacar que o Centro de Moda consiste em um ponto de informações para as empresas de tecidos que procuram inovação e diversidade em suas peças. 

Desafios e oportunidades 

A China é o maior concorrente ao crescimento do polo têxtil de Americana. O problema não é a competitividade, mas sim a grande carga tributária brasileira. Há também o alto custo da matéria-prima. Mesmo com as dificuldades, o polo têxtil de Americana tem se destacado como um bom exportador, principalmente de fibras químicas, para a América Latina.  

É preciso buscar por inovações em seus produtos como meio de expandir as vendas não só internas, mas também externas, além de reconhecer a importância da inovação contínua para se manter à frente. 

Sucessão nas empresas e o futuro do Polo Têxtil 

A sucessão é essencial para a continuidade das empresas têxteis familiares na região. Estratégias incluem a capacitação dos sucessores desde cedo e a implementação de planos de contingência. Uma oportunidade valiosa para gerações mais jovens se envolverem com a indústria desde cedo, preparando-se para fazer parte desse segmento no futuro e assim poder prosperar e contribuir para o desenvolvimento da região.

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